A emoção da competição

13-08-2022

A primeira pergunta é: quem és Tu?

A segunda é: quem deu a reposta à primeira pergunta?

A terceira é: onde está o teu Amor-Próprio? 

Esta terceira pergunta é a chave da resposta à primeira e à segunda. 

Onde está o Sentimento de Ti? Na tua capacidade de raciocionar? Na tua capacidade de sentir? 

E agora pergunto: quão magoado e revoltado andas tu com o mundo? 

Se não perguntares com frequência a ti mesmo determinadas perguntas como as que fiz acima, são os factores exteriores que acabam por responder por ti. Responde a tua família, responde a sociedade em que vives e respectivas obrigações, vontades e expectativas. Deves ser assim porque o mundo à tua volta também é assim e ponto final. Nesta dinâmica, o conhecimento e a habilidade são instrumentos que o mundo exterior usa para definir quem é o quê e quem. De acordo com o teu grau de inteligência e habilidade acabas por ocupar um determinado lugar e podes mesmo acabar por ser "objectificado".

Sentir-se acorrentado, insatisfeito, insuficiente, perturbado é um prenúncio de que quem está a dar as respostas à questão "quem és tu" é o mundo exterior e não Tu. Um sintoma imediato do ego que se auto-define de acordo com os padrões exteriores é a necessidade de competir. A necessidade de competir manifesta-se de maneiras muito subtis e por vezes quase imperceptíveis. Não falo da "competição" que traz alegria e satisfação, que traz evolução e espírito de Amor dentro de uma comunidade que "brinca". Falo da competição que se vê na sua forma mais primitiva em muitas claques de futebol que vandalizam o que consideram ser uma ameaça à sua soberania, a competição que traz a manipulação maldosa de outras pessoas, a competição que acaba por nivelar os seres entre melhores e piores (como se isso fosse possível), a competição que traz a discórdia a uma família, a competição tóxica entre professores frustrados que veem nos alunos uma oportunidade para mostrarem o que nunca conseguiram mostrar eles próprios, a competição vivenciada em concursos que servem uma indústria de lucro pelo lucro, a competição entre duas pessoas que, sentindo-se mutuamente ameaçadas/não amadas, manipulam o campo de ação uma da outra, seja ele físico, emocional, mental ou espiritual - há inclusivé relacionamentos amorosos, cujo campo de ação é continuamente contaminado e alimentado por este tipo de toxicidade. A competitividade alimentada por um sistema de atribuição de notas. A classificação de crianças e jovens até aos 16 anos é uma falta de respeito pela sua individualidade, uma forma de atrofiar as suas inteligências emocionais, criativas e intuitivas. O mundo muda e evoluí e nós continuamos presos a sistemas dos mentores do passado. O que fez sentido outrora, não faz sentido hoje e quanto mais cedo nos libertamos das correntes do passado, mais espaço daremos às crianças para elas manifestarem toda a sua verdadeira e inata Sabedoria! Há muitas formas de competição ... é um jogo energético que se move no inconsciente colectivo e que tem consequência dramáticas.  

A competição nasce de uma identificação da persona/sistema com o conhecimento ou com a habilidade. Esta identificação acaba por criar no campo de ação uma tensão onde predomina a falta de Amor-Próprio. O que o ego faz automaticamente, e de acordo com a sua necessidade de competir, é medir o quanto é amado através do conhecimento que tem e das suas habilidades. Querer ser amado pelo que se sabe ou pelo que se faz impede que a pessoa seja amada pelo que verdadeiramente É. 

Não ser amada pelo que se É resulta em dor e sofrimento: "ninguém me compreende", "ninguém me vê pelo que realmente sou", "ninguém me ama". Há muitos relacionamentos que têm estas forças em contínuo movimento, havendo frustração e manipulação inconscientes dentro da própria família. 

É dramático quando não se tem consciência destes movimentos. O Amor Verdadeiro está lá, mas a ilusão de que o que importa é o que se sabe ou o que se consegue fazer ou dizer, acaba por muitas vezes desmanchar o próprio relacionamento ou causar grandes discussões dentro de famílias. A substância do Amor unifica e integra o Ser na sua Verdade e Simplicidade. Não coloca ninguém acima de ninguém. O Amor dignifica, com devoção, o Ser e a sua mais pura essência. 

O Amor é substância da Verdade e por isso é que se diz que a Verdade vem sempre ao de cima ... é que o Amor é a Água Vivificada do Universo, movida pelo Mistério ... está completamente fora do controle das nossas mentes inferiores, mas totalmente presente nos nossos Corações!  

A emoção da competição é uma visão distorcida de si, é tensão, uma corrente vibratória que inflama os próprios tecidos e exerce no intelecto uma pressão que impede a manifestação do Amor-Próprio. Muitas vezes, a mente não tem como ver ... mas o corpo tem como sentir! O Corpo sente e manifesta tudo!

Para que a Sabedoria do Coração se manifeste, e para que ela se mostre nos dons que todos trazemos, é necessário silêncio, o retiro em si mesmo para a observação concreta dos movimentos do eu. Só o silêncio, o espaço íntimo consigo mesmo, o tempo vazio, pode trazer a lucidez necessária para entender estes mecanismos que estão impregnados nos sistemas das nossas sociedades e no próprio corpo. 

Quando se é amado pelo que se É e não pelo que se sabe ou se consegue fazer, a Paz reina no interior! Há um sentido de plenitude! Há pais que projectam nos próprios filhos as suas frustrações, mesmo sem querer. Pais exigentes, que nunca mostram uma plena satisfação no que fazem ou no que os filhos fazem. Estas crianças, muitas crianças que nascem hoje, trazem já consigo o dom do Verdadeiro Amor e darão aos pais uma grande oportunidade de crescimento pessoal, pois escolheram nascer numa família com falta de Amor-Próprio! As crianças são as grande Mestres! Espelhos puros e perfeitos do que está distorcido! A seu tempo, transmutarão toda a energia em puro Amor!   

No movimento de ascenção, estes sistemas de competição vão desaparecendo. Com a libertação dos mecanismos do ego, deixa de fazer sentido provar seja o que for. O que fica é a Paz e o perfeito Lugar na Existência. A interação com o outro é então uma expressão de puro Amor. A Sabedoria dá Lugar à contínua criatividade e há lugar para tudo e todos! O reconhecimento do dom no outro é o Amor em si mesmo a vibrar em pleno! Não se compete, antes vivencia-se o Deus interior ... sendo a ação um movimento para a perfeita integração do Um com o Todo. Todo o ecosistema é vivificado através deste Amor! Tudo tem energia para florescer! Ninguém alimenta a discórdia nem a revolta pois está totalmente Integrado! Pertence! 

O desporto, a música, a aprendizagem, tudo o que nos faz evoluir serve apenas e só a Presença. Não há melhor nem pior, nem tão pouco o erro, não há culpa nem vergonha nem tão pouco a chantagem. Não há manipulação nem exercício de poder. Há a Vida, a Verdade e a Natureza de cada Um. E há a Voz Plena - A Voz da Terra que canta a Mãe Terra e o Corpo que lhe dá Lugar!