Meditação sobre o Dia da Mãe

A celebração do Dia da Mãe começa com o nome Ann Maria Reeves Jarvis, uma ativista social americana que faleceu em 1905. Em 1908, a sua filha, na intenção de homenagear a mãe, iniciou um movimento que se foi espalhando pelo mundo e que resultou no Dia Mundial da Mãe.
"Em Portugal:
1950:A Mocidade Portuguesa Feminina instituiu a celebração a 8 de dezembro, coincidindo com o Dia da Imaculada Conceição. Em 1970 a celebração passou para o primeiro domingo de maio, devido a problemas de logística e para evitar coincidências com datas litúrgicas importantes." O aspecto comercial também teve uma forte influência da alteração da data. O 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição, um dogma instituído pela Igreja Católica no século XIX - "...afirma que a Virgem Maria foi preservada do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção, ou seja, desde o momento em que foi concebida no seio da sua mãe, Santa Ana" muito influenciado pelas visões de Catherine Labouré: "a Maria concebida sem pecado" foi pois durante algum tempo celebrado em Portugal como o Dia da Mãe, e ainda hoje as reminiscências dessa tradição se sentem.
É necessário despertar em nós a Mãe que casa a ideia com a intuição. O Logos com o Imaginário Divino - isto traz-me à percepção do sentimento biológico da Mãe e do sentimento cósmico da Mãe. Santa Maria, Mãe de Deus, "concebida sem pecado" ... Todas estas palavras que foram sendo instauradas ao longo dos séculos de acordo com os movimentos das ideias cristãs - homens que procuram uma identidade que distinga uns de outros, uma cristalização conceptual que vinca uma identidade - deu origem a dogmas em repetidos concílios que procuram centralizar o poder dum movimento.
E guerras sem fim nascem da disputa de ideias, ideias que visam definir a natureza de um homem e de uma mulher. Os primórdios do cristianismo, entre mártires e imperadores, é na verdade um mundo sem Mãe, dividem-se terras e homens de acordo com a ideia que uma Vida só pode ser de um único Modo, ou é semideus ou é consubstancial ao Pai ou ... ou... ou... ou ...E como diz Antero de Quental ... "mas a ideia quem é?" ...
As Guerras que causaram traumas profundos no nosso tecido social nasceram sempre da necessidade de vincar uma identidade acerca da natureza de algo ... católica, ortodoxa, protestante ...Os recursos da Terra Mãe, multiformes, são absorvidos através duma percepção de Si que, em qualquer Guerra, se esquece da Lei da Abundância, esta que nos permite viver entre macieiras, pereiras e laranjeiras e não só sobreiros. Já imaginaram um mundo só de sobreiros?
A vida que pertence à Mãe, em termos anímicos, os seres, os reinos da fauna e da flora, foi ao longo das disputas dos impérios atordoada, corrompida, despida do seu verde para criar armas que defendem uma ideia. E tudo isto é real e tem sentido na evolução da Humanidade como um todo, ou são judeus ou são cristãos, ou são capitalistas ou comunistas, ou são xiitas ou sunitas ...
Simbolicamente, a Imaculada Conceição, esta Mãe concebida "sem pecado", e claro, deixando o trauma do pecado original associado ao sexo resolvido e entregue ao túmulo do Santo Agostinho que tão bem soube espelhar os traumas do seu tempo e os seus próprios traumas com uma ideia que viria a assombrar os instintos físicos durante séculos (e muitos anos ainda precisamos para nos livrarmos da carga criada na psique coletiva por esta ideia perversa que transforma o prazer humano no "maldito" - e para tal que Deus nos dê paciência, perseverança e muito prazer físico bendito), esta Mãe é aquela que vejo no plano intacto da vida, a virgem terra que nos seus elementos mantém a concordância com os fenómenos cósmicos que alinham o movimento da Vida.
Uma virgindade que permite um estado organizado para que a vida nasça, uma virgindade que diz respeito à saúde de um ecossistema e à saúde mental que entende uma ideia não como uma pedra para erguer um templo, mas como uma tradução de um tempo/espaço efémero. Ideias virgens são ideias que se alinham com aquilo que permite um céu azul e uma nuvem que passa e nós humanos temos acesso a essa inteligência, se nos lembrarmos desse símbolo que é a Mãe. Aqui o espaço é infindável e o tempo tem sabor a vida eterna. A Mãe de Deus, a Mãe cuja Sabedoria, Inteligência, Providência, Energia, venham daí as palavras ... a Mãe cuja Fonte permite a gestação da Vida - a tradução desta Qualidade da Mãe origina ideias para que elas sirvam a Vida, a diversidade, a vida em movimento, as multiformas, a perplexidade ante a imensidão dos mares desconhecidos, e que bendição a Imaculada Conceição ser a Padroeira de Portugal!
Hoje, enquanto Humanidade, ainda não despertamos em nós este Sentido da Mãe que abraça todos os "Filhos", "Seres Animados no Seu Ventre em emoções, percepções e ideias" estamos divididos entre as Guerras Imperiais em que os homens conspiram e amaldiçoam os seus semelhantes como se vê hoje no nosso meio político, doente e raquítico. Na génese das religiões do livro lá estão os combates entre irmãos, os mesmos que vemos entre Israel e Palestina, os mesmos que vemos entre a Rússia e a Ucrânia, os mesmos que vemos entre partidos. Irmãos que formam ordens para se combaterem até que se lembrem que existe uma Mãe que abraça todos de igual modo e com o mesmo tipo de providência - a Lei Cósmica da Abundância. No absurdo da avidez, o homem teme não ter o suficiente ou tanto como o outro e para matar a sensação criada em si mesmo, mata o outro homem.
Longa vai esta Meditação. Enfim, feliz dia da Mãe e que todos os homens se lembrem desta Grande Mãe que tem em si o Poder de abarcar todos os Filhos. Quando assim for, nenhum homem matará outro homem. Até lá, que a Oração seja tão Lúcida como é Lúcida a Árvore que, sendo Lar para tantos animais, busca os céus dando flores e frutos.
Louvemos Maria, a Mãe, o Símbolo renovado de era em era, saudando o passado e a cultura, cantando-lhe o sabor a Paz, o sabor da Esperança, a fisicalidade virgem de uma ideia de futuro desprendida de tudo.